Viagem na leitura
Ler é viajar, é voltar a ser criança.
Deitar no tronco do ipê com José de Alencar
Pegar um busão e sair pelas periferias do Brasil
Visitando cortiço por cortiço
Para entender o diário de uma favelada
Quarto de despejo de Carolina Maria de Jesus
Reviver as peripécias de infância com Sacolinha
Ser graduado em marginalidade,
Um fora da lei como Saulo Ramos
E viver o Último dia de um condenado
Como Victor Hugo
Ler é fazer uma viagem ao centro da Terra,
Dar a volta ao mundo em oitenta dias
Com Júlio Verne,
É ser o sertanejo, de Vidas Secas,
Pegar baleia no colo
E evitar que ela morra, Graciliano
Trilhar pelas veredas do sertão,
Sim, o grande sertão veredas, de Guimarães.
Conhecer as belezas dos sertões
De Euclides da Cunha.
E viver as Aventuras de um Caipira
De Francis Gomes
Ler é matar seus próprios Demônios, Aluísio,
Vencer as intermitências da morte,
Como Saramago
E fazer a morte se apaixonar
Depois de cem anos de solidão, Gabriel.
Ser um dos maridos de Dona Flor
O Jorge mais amado
Desvendar os segredos de Capitu
Que Machado não quis revelar.
Ser boêmio e conhecer
O outro lado da meia-noite
Com Sidney Sheldon
Vivendo Os Amores de Bocage.
Ler é mergulhar no Rio Tejo
De Fernando Pessoa e Camões.
Visitar a África sem nunca ter ido à África
A ponto de ouvir vozes da África
Como Castro Alves.
É ser um ser tão enigmático
Como Francis Gomes
Louco a ponto de semear versos
E colher cordel, ouvindo Ecos do Silêncio.
E nas loucuras e sonhos,
Ouvir sussurros da noite,
Como Sidney Leal.
Ler é conhecer novas culturas,
Novos povos, novos costumes.
É ir além dos próprios passos,
Visitar o futuro e voltar ao passado,
Ter um dedo de prosa com Shakespeare.
Passar uma noite na Taberna
Com as mulheres de Álvares de Azevedo
E depois voltar a terra natal
Para um papo entre amigos
Como Patativa do Assaré
E Ariano Suassuna,
Ouvir Patativa recitar A morte de Naná,
E Ariano sussurrar
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém.
Francis Gomes